Nas margens do rio Solimões,
em um pequeno povoado onde não existe água potável e nem luz. A comunidade São
Francisco da Ilha do Ariá, em Coari, distante 363km de Manaus, foi a escolhida
para estreia do projeto social “Repórter Cabocla – Um jeito diferente de ver o
mundo”, com cerca de 20 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos
assistiram atentamente a técnicas jornalísticas básicas, para que se tornem
vigias da floresta.
Além das crianças da zona
rural, cerca de 40 crianças da área urbana, do colégio Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, também tiveram a oportunidade de aprender como se tornar um
repórter mirim, em cerca de duas horas entre aula teórica e prática.
Dentre muitos textos, uma
das crianças me chamou atenção: “Tia, eu fiz uma reportagem que de fato
aconteceu em Coari” – curiosa fui ler. A pequena estudante contou na matéria
que viu em plena praça pública da cidade, uma criança de aproximadamente 10
anos, estava sendo espancada pelo avô. – “Tia, eu mesma vi e esse fato mexeu
bastante comigo como criança, tanto que não esqueci”.
Confesso a vocês que neste
momento me veio um filme e lembrei que aos oito anos em Coari, estava a caminho
da escola e vi uma multidão na direção de um barranco de rio, que ficava ao
lado da minha escola e eu curiosa corri até lá. Ao penetrar no meio daquele
povo, vi uma das cenas mais chocantes da minha vida. Vi dois seres humanos
totalmente “ticados” com terçados dentro de duas canoas, mortos. Em meio ao meu
espanto de criança, comecei a ouvir adultos falando: “Foi uma briga de dois
irmãos no interior, um matou o outro por motivo banal”... E logo fui me
afastando, porém na minha cabeça de criança, aquela imagem nunca mais se
apagou.
“Tia, minha avó me disse
que ia denunciar o velho que bateu na criança para o conselho tutelar” – E assim
depois de um Déja-vu, retornei à minha realidade e diferente daquela criança,
que quis noticiar, na época não tive esta oportunidade.
Retornei à Manaus no
começo de agosto mais convicta do que nunca, de que é preciso sim, ensinar nossas
crianças a terem uma visão crítica sobre a sociedade em que vivem, para que não
sejam vítimas do fechar da caverna com elas dentro, tornando-se seres humanos
alienados, em um mundo que tanto precisa de justiça e políticas públicas de
qualidade. Seguimos nossa luta!
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